terça-feira, 8 de novembro de 2016

Qual o (melhor) lugar da mulher dentro do país do futebol?

Contribuição do Mestre e Professor de Educação Física: Paulo Roberto Alves Falk
Já passou da hora do futebol brasileiro abrir as portas para que o público feminino possa atuar nas várias dimensões deste esporte. E não podemos falar somente da atuação dentro das quatro linhas, mas na participação, na gestão e na administração do esporte.
Há que se dar voz, lugar e poder.
Quando se trata da relação esporte e mulher é evidente a desvalorização do papel feminino frente ao mundo esportivo.
Em busca de respostas, mas principalmente de soluções precisamos propor o debate sobre propostas pedagógicas que oportunizem a participação feminina no futebol não somente através do jogo, mas com possibilidades de atuação em outras áreas ligadas ao futebol.
Se a base educacional e cultural se constrói dentro do contexto escolar e lá é muito comum que os conteúdos esportivos sejam transmitidos superficialmente, apenas na dimensão procedimental, onde o saber fazer ou jogar é o que importa, acaba ocasionando a falta de aprofundamento em alunos e alunas dos conteúdos propostos para a Educação Física.
Então, há que se aprofundar esta discussão na formação do profissional de Educação Física, nas graduações ou especializações dentro da profissão.
Precisamos expor o que já parece ser um ponto de inflexão em nossa historia futebolística, pois apesar de todas as dificuldades, há mulheres presentes no futebol brasileiro. Torcedoras que vão aos estádios, assistem jogos, opinam, treinam, jogam, comentam, repórteres de campo, blogueiras, árbitras, auxiliares, dirigentes, técnicas...
E mesmo sendo uma minoria acreditam em seus potenciais, suas percepções, suas qualificações e vão aos campos.
Posso dar a opinião de quem trabalhou ao lado de uma profissional de Educação Física, apaixonada pelo futebol, que transformou e qualificou meu ponto de vista em diversos aspectos do jogo. Era a qualidade a mais, o detalhe, o diagnóstico preciso. Era a opinião tímida no inicio, mas com dedicação e embasamento criou alicerces que deram-lhe posicionamento nos campos. Fosse na preparação física, no preparo psicológico, na gestão, na administração, no aconselhamento e em detalhes táticos, foi fundamental em um trabalho de base bem qualificado.
Este é um caso, mas penso no potencial humano que, por preconceito deixamos de ter ao nosso lado no dia-a-dia dos campos.
Por sorte, a mudança apesar de lenta vem ocorrendo.
E a nossa CBF, de gestão estrambólica, nomeou a primeira mulher a assumir o cargo de treinadora da seleção feminina de futebol. Copiamos tardiamente, Suécia, Alemanha e EUA, potencias do futebol feminino mundial.
A escolhida foi a ex-jogadora, Emily Lima formada no curso Licença B, oferecido pela CBF para treinadores de categorias de base. Com 36 anos, ela já treinou as seleções sub-15 e sub-17, e estava no comando do São José-SP.
Não possui formação em Educação Física, o que pode gerar questionamentos e mais um debate sobre esta necessidade da área, mas isso também teria que ser exigência aos homens, o que não ocorre.
Então, que a Emily venha para quebrar as barreiras, que seja a mudança em todas as estruturas do futebol brasileiro, que não seja julgada por resultados imediatos e sim por um trabalho qualificado, a longo prazo.
E direto do túnel do tempo, há mais de uma década publicado, segue texto de 2005, do estudo de Silvana Vilodre Goellner:
[...] ainda é precária a estruturação da modalidade no país pois são escassos os campeonatos, as contratações das atletas são efêmeras e, praticamente, inexistem políticas privadas e públicas direcionadas para o incentivo às meninas e mulheres que desejam praticar esse esporte, seja como participantes eventuais, seja como atletas de alto rendimento. Para além destas situações a mídia esportiva pouco espaço confere ao futebol feminino e quando o faz, geralmente, menciona não tanto os talentos esportivos das atletas, árbitras ou treinadoras mas a sua imagem e o seu comportamento.





“Jason, eu bem que gostaria de deixá-lo jogar, mas futebol é jogo de meninas”
The New York Times Journal, Jan/2001.

Referências:
GOELLNER, Silvana V. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 143-151, abr./jun. 2005.

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